Nos últimos tempos, muito se tem falado sobre os fornecedores de bens e serviços no mercado do cibercrime, especialmente no que se refere aos grandes senhores das botnets. No entanto, o papel dos compradores neste mercado é ainda mais importante.

São eles os que fazem os ataques massivos contra os utilizadores e obtêm acesso não autorizado aos dados e recursos dos computadores infectados.

Também são eles os que recebem os maiores lucros, ao roubar dinheiro electrónico e real dos cartões de crédito. Estes delinquentes costumam manter-se isolados e é raro que estejam relacionados com os delinquentes que criam os códigos maliciosos; frequentemente, são estes clientes de serviços ilegais quem tira mais proveito das botnets. As principais categorias de utilizadores de serviços cibercriminosos interessados nas botnets são os chamados carders, os extorsionários e a concorrência desleal.

O Que São os Carders

Um dos primeiros tipos de delitos a surgir na rede global foi o carding. Os carders lucram usando cartões de crédito roubados e informação sobre os seus titulares. Esta categoria de cibercriminosos tem os seus próprios fóruns temáticos, onde se analisam os aspectos organizativos da lavagem de dinheiro e a sua conversão em liquidez. Dado que os esquemas com cartões de crédito são truques financeiros, os carders, mais que outros delinquentes cibernéticos, preocupam-se com o seu anonimato e segurança. Num típico fórum de carders, podem adquirir-se cartões de crédito virtuais, ou seja, apenas os dados do cartão de crédito e do seu proprietário. Também se pode negociar a compra de cartões de crédito reais (para ser mais exactos, as suas cópias). Nos círculos clandestinos, aos cartões de crédito virtuais roubados chama-se “cartão” e aos cartões reais “plástico”. Os cartões reais podem ser usados para levantar dinheiro das caixas multibanco. Para que o banco não suspeite de nada, o dinheiro é levantado por um intermediário que vive na mesma região que o proprietário do cartão real. No caso do "cartão", o dinheiro passa antes por um processo de lavagem.

 Quando se bloqueiam as contas nos bancos, em regra solicita-se ao cliente que envie cópias digitalizadas para confirmar a sua identidade. Os proprietários de serviços de falsificação de documentos podem falsificar qualquer documento, cuja cópia terá o mesmo aspecto que o original. Falsificam-se imagens de quase qualquer documento, até de cartas de condução, passaportes, facturas de electricidade e telefone, diplomas e até cartões de crédito.

O papel dos carders no mundo do delito cibernético é muito importante. Os carders são os clientes mais generosos, ao adquirirem todo o tipo de programas, porque são os delinquentes virtuais mais ricos. Se não existissem as botnets, seria muito menor a quantidade de dados dos cartões de crédito que se poderiam roubar. E considerando que os carders estão interessados em aumentar as dimensões dos seus negócios, estão dispostos a pagar aos que têm mais cartões roubados, ou seja, aos proprietários das botnets.
Os Spammers
Hoje em dia há tantas ofertas de envios de spam a partir de servidores capturados, que os clientes não demoram muito a encontrar executores. No entanto, cerca de 85% do spam é enviado a partir de botnets. Como regra, os spammers recebem dinheiro pelo envio de publicidade, pelo aumento das vendas das lojas online ou pelos utilizadores de casinos online. Os proprietários das botnets têm interesse nestes clientes, porque o dinheiro que estes lhes transferem não tem reputação de “roubado” e portanto causa-lhes menos problemas.

Conclusão

O negócio do cibercrime desenvolve-se em espiral. Os desenvolvedores de códigos maliciosos e outros fornecedores de serviços ilegais usam a mediação dos avalistas para oferecer serviços aos proprietários de botnets. Por sua vez, os donos de botnets prestam serviços baseados nas botnets dos carders, spammers e outros clientes. Ao ganhar dinheiro com o desenvolvimento dum programa malicioso ou doutros serviços, os fornecedores começam a prestar novos serviços e códigos maliciosos, começando um novo ciclo. E com cada novo ciclo convocam-se cada vez mais participantes: os clientes tratam de aumentar o fluxo de dinheiro e os rumores sobre os lucrativos pedidos de criação de programas nocivos difundem-se nos fóruns de hackers e noutros canais de comunicação dos delinquentes cibernéticos.

Hoje, com a ajuda das botnets, os delinquentes podem obter acesso não sancionado, já não a um par de equipamentos, mas a centenas ou milhares de computadores. As botnets influem na quantidade de delitos perpetrados na Internet: graças às botnets, a quantidade de vítimas de roubo de cartões de crédito aumentou milhares de vezes. Os ataques DDoS converteram-se em algo comum na Internet e, com a ajuda duma botnet, até uma criança pode organizar um ataque.

As botnets são uma espécie de sistema circulatório do negócio do cibercrime, porque fomentam o movimento de fluxos monetários entre os seus participantes e o desenvolvimento do mundo do cibercrime em geral. Portanto, a Internet no futuro dependerá do que suceda com as botnets.
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Ler 2376 vezes Modificado em Jan. 09, 2010
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