Fez recentemente 31 anos que a primeira mensagem de Spam foi enviada.

A três de Maio de 1978, cerca de 400 subscritores da Arpanet, a antecessora da Internet que interconectava sobretudo computadores de universidades, receberam uma mensagem publicitária da Digital, um dos gigantes da indústria da época, que actualmente já nem existe (a Digital foi adquirida pela Compaq, que posteriormente foi comprada pela HP).

Apesar dos administradores da Arpanet não terem visto esta situação com bons olhos, a verdade é que o e-mail em questão obteve uma resposta positiva de alguns dos membros da rede, o que fez com que uma acção isolada se transformasse rapidamente num meio de comunicação publicitária alternativo, passando depois para outros canais, como a Usenet ou a Web.

O nome "Spam", que advém de uma rábula dos Monty Python (abundantemente reproduzida em sites como o YouTube) tornou-se rapidamente sinónimo de correio electrónico publicitário indesejado e é actualmente responsável por mais de 95% de todo o tráfego de e-mail na Internet.

O Spam ultrapassou inclusivamente as barreiras da Rede, sendo actualmente utilizado em outros tipos de plataformas, como telemóveis. Há duas grandes razões para o seu sucesso, e muitos motivos para que as tentativas de eliminação do fenómeno não tenham sido bem sucedidas.

Para o sucesso do Spam contribui o facto de que praticamente não tem custos de envio. Mesmo actualmente, quando a grande maioria do Spam é distribuído por botnets - redes de computadores infectados com malware e controlados remotamente - e que esse serviço é pago pelos anunciantes, o seu custo é tão baixo que utilizar este meio se torna num recurso publicitário extremamente vantajoso.

A segunda vantagem está relacionada com a primeira e tem a ver com a eficiência do Spam: continuam a existir mensagens deste género porque continua a funcionar, e funciona porque existem pessoas que continuam a fazer compras ou a tomar decisões comerciais com base neste meio. Mesmo que o número de compras decorrente do Spam seja ínfimo, é praticamente certo que compensa o investimento realizado, o que perpetua o processo.

Quanto aos motivos pelos quais erradicar completamente este fenómeno não funciona são tantos e de tão diversa ordem que é muito difícil conhecê-los a todos. Por um lado, existem as questões jurídicas: nem todos os países possuem as mesmas leis no que toca ao Spam, sendo difícil actuar quando um utilizador num determinado local recebe um e-mail oriundo de um país diferente. Depois as questões técnicas: o que é diferencia o Spam de correio publicitário legítimo? Quem controla a legitimidade dessa distinção e como aplicá-la na filtragem do e-mail? Como responder a desafios tecnologicamente complexos, como as mensagens de Spam contidas em ficheiros áudio ou PDF? Deve-se ou não filtrar os endereços IP que estejam listados como atribuídos a utilizadores de banda larga, bloqueando grande parte do tráfego das botnets mas impedindo outros utilizadores de implementar e utilizar legitimamente o seu próprio servidor de e-mail?

Têm existido inúmeras abordagens a estes e a outros problemas e, de facto, há sistemas anti-spam que funcionam, filtrando a maior parte dos e-mails indesejados (como os utilizadores do Panda Internet Security 2010 podem atestar). No entanto, os custos decorrentes desta filtragem (custo das soluções, tráfego, recursos nas máquinas, tempo) continuam a existir e a ser suportados pelos utilizadores e pelos ISPs, sendo que quem origina este negócio continua a escapar impunemente. Enquanto as empresas que publicitam bens na Internet utilizando esta fórmula não forem penalizadas, o Spam continuará a existir.

Ao nível técnico é necessário reformar os protocolos utilizados, no sentido de impedir o envio anónimo de e-mails, o que permitirá pelo menos imputar responsabilidades e tomar medidas de bloqueio permanente. Bill Gates referiu em 2004 que o Spam seria erradicado nos dois anos seguintes, o que de facto não aconteceu.

Nós não temos tanta esperança, mas acreditamos que com as medidas certas seja possível não termos de conviver mais trinta anos com o fenómeno. Uma questão fica no ar: o centro de pesquisa CentMail da Yahoo! quer implementar uma ideia antiga - a cobrança por cada e-mail enviado. Assim, o Spam poderá deixar de ser um negócio rentável e o dinheiro pago vai para caridade. Estaremos perante a solução para este problema?

 Autor : Rui Lopes, Director do Departamento de Consultoria da Panda Security
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