Durante os anos 80 e 90, o ambiente do MS-DOS dominava a computação pessoal, mas a sua rigidez impunha uma curva de aprendizagem significativa. Para a maioria dos utilizadores, interagir com o sistema significava memorizar comandos e escrever linhas de texto à mão, um processo pouco intuitivo que limitava a produtividade e criava uma distância entre o utilizador comum e o potencial real dos computadores. Foi nesse cenário que surgiu o Norton Commander, desenvolvido por John Socha e lançado originalmente pela Peter Norton Computing em 1986.
Com o seu visual inconfundível de fundo azul, dois painéis lado a lado e atalhos de função bem destacados, o Norton Commander transformou por completo a forma como os utilizadores navegavam entre pastas e ficheiros. Em vez de depender de comandos como DIR, COPY, ou CD, bastava utilizar as teclas de função ou selecionar visualmente os ficheiros desejados. A simplicidade e fluidez do interface permitiam mover, copiar, apagar, compactar e editar ficheiros com uma facilidade inédita para a época. Este avanço não só democratizou o acesso ao DOS como também lançou as bases para aquilo que mais tarde viriam a ser os gestores de ficheiros gráficos nos sistemas operativos modernos.
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A influência do Norton Commander foi tão profunda que inspirou dezenas de clones e alternativas — de Volkov Commander a Midnight Commander — e consolidou o formato de dois painéis como padrão de usabilidade para tarefas de gestão de ficheiros. Muitos utilizadores que hoje se destacam nas áreas de desenvolvimento, administração de sistemas ou engenharia informática deram os seus primeiros passos no mundo da organização digital com este utilitário. Tornou-se, por isso, mais do que uma ferramenta: foi uma porta de entrada, um professor silencioso que ensinava lógica, estrutura de ficheiros e até mesmo disciplina digital.
Apesar do declínio da sua utilização nos anos 2000 com o avanço das interfaces gráficas, o Norton Commander permanece vivo no imaginário coletivo dos entusiastas de retrocomputação. E continua, de forma surpreendente, a ser utilizado em ambientes minimalistas ou como ferramenta auxiliar em sistemas embebidos e servidores de consola.
Para quem deseja reviver esta experiência nos dias de hoje, o caminho mais direto é através do DOSBox, onde se pode facilmente montar uma pasta com o executável do Norton Commander. O ficheiro original (NC.EXE) ainda pode ser encontrado em sites de preservação de software, como o WinWorldPC.net ou o Vetusware. Após iniciar o DOSBox, basta escrever NC para que aquele ecrã azul familiar volte à vida. Há também versões alternativas modernas, como o Midnight Commander para Linux, que homenageiam o original, preservando o espírito e o funcionamento com melhorias pontuais.
O Norton Commander não era apenas um gestor de ficheiros. Era um facilitador, uma ponte entre o utilizador e a máquina, numa era em que os computadores ainda falavam numa linguagem dura. O seu impacto foi tal que, para muitos, representa a primeira memória clara de organização digital — e continua a ser um símbolo da inteligência aplicada à simplicidade funcional.
Na Wintech, celebramos esta memória e continuamos a recordar o software que fez história. Porque relembrar é também homenagear a evolução da tecnologia.