Chegou à Xbox, Dishonored, um dos títulos mais aguardados do mundo dos videojogos para este último trimestre de 2012, e no qual a americana Bethesda Softworks, promete trazer aos FPS (First Person Shooters), um título capaz de mostrar todo o potencial da emergente empresa de Maryland.

Com uma história "diferente", um enredo alternativo e recheado de surpresas, Dishonored mostra-se como um jogo de forte impacto, embrenhado num universo místico que mistura passado e presente, onde uma devastadora praga de ratazanas se mostra como mote para um enredo pouco ortodoxo, pleno de intriga política, e repleto de pequenos detalhes que garantem à história uma imensidão que requererá toda a atenção por parte do jogador, onde os combates ocorrem com extrema violência e pormenor.

 

Deste modo, Dishonored mostra-se como um título em que o estilo FPS detém um cunho tão agressivo quanto místico, em que a ação se desenrola num ambiente épico/surreal, e com vastas caraterísticas de Role Playing, com o nosso protagonista a interagir com quests, missões, objetivos paralelos e podendo não só ir adquirindo mais e melhor armamento ao longo da história, como também o poderá evoluir, assim como às suas habilidades físicas e sobrenaturais.

A Bethesda prometeu (e cumpriu) trazer um jogo que inovasse a gama dos FPS, e fê-lo com um enredo cheio de surpresas e detalhes que nos transportam para uma história de elevada qualidade, apelativa, e que permite um certo afastamento daquilo a que os FPS já nos habituaram.

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A História

O jogador interpreta o papel de Corvo, o Lord Protector da imperatriz Jessamine de Dunwall, um reino devastado por uma praga de ratazanas que vai destruindo a população, eliminando os mais baixos estratos sociais do reino. Corvo surge como aquele a quem a imperatriz encarrega de procurar auxílio junto de outros reinos, numa incessante procura por acabar definitivamente com a praga que se abate sobre as ruas de Dunwall, começando a história precisamente quando Lord Corvo regressa ao seu reino, e se reúne com a imperatriz. Pelo caminho, o jogador terá oportunidade desde logo de conhecer Emily, a filha de Jessamine, que mostra conhecer bem Corvo, interagindo desde logo com o protagonista, e levando-nos até à sua mãe. Este caminho, que serve desde logo como tutorial para os movimentos básicos da personagem, leva-nos à reunião de Corvo com a imperatriz, que termina com os três a serem atacados por uns misteriosos assassinos que detêm a habilidade de se teletransportar. Embora esta seja a nossa primeira batalha em todo o jogo, é, à partida, uma batalha perdida, pois a imperatriz acaba assassinada, e os seus assassinos raptam ainda Emily, imobilizando Corvo sem que este possa reagir e impedir tal infortúnio. Vendo (e engendrando) toda esta situação, o Regente Hiram Burrows acusa Corvo pelo assassinato da imperatriz e rapto da sua filha Emily, enviando-o para a prisão até ser executado, seis meses depois, aquando da tomada de posse de Hiram.

No entanto, no dia anterior à sua execução, Corvo, que há muito perdera o seu título de Lord Protector, recebe informações e instruções de como escapar da prisão, por uma entidade que permanece incógnita até que Corvo veja novamente a luz do dia. Na sua fuga, o protagonista tem acesso às primeiras armas e situações de batalha, e acaba por ter que realizar a sua fuga pela rede de esgotos, onde tem a sua primeira interação com a praga propriamente dita, em que vastos bandos de ratazanas vagueiam, atacando e consumindo os humanos que encontram à sua passagem. Escapando a roedores e guardas, Corvo passa a ser um fugitivo, encontrando auxílio nos Loyalists, um grupo que se reúne num bar, fora do alcance da opressão do Regente de Dunwall.

Aí, Corvo tem um “sonho”, onde a personagem denominada de Outsider aparece e lhe dá algumas indicações enigmáticas para o seu futuro. Mas mais importante do que isso, Outsider presenteia Corvo com uma inscrição na sua mão, que lhe garante habilidades sobrenaturais e ainda um coração mecanizado, que lhe revela alguns segredos e a localização de artefactos que podem auxiliar a evolução das capacidades sobrenaturais que Corvo passa então a deter. Deste modo, com poderes sobrenaturais e o auxílio dos Loyalists, partimos em busca de Emily, deitando abaixo os principais opressores de um devastado reino de Dunwall, quebrado sob a corrupção e a praga que habitam as ruas.

A partir daqui, o jogador embarca numa série de missões, que têm como casa de partida e de chegada a sede dos Loyalists, e que permite a Corvo aí recuperar energias, assim como desenvolver, adquirir e evoluir as suas armas e gadgets com que poderá deitar abaixo os seus opositores.

Num enredo que promete dar voltas e voltas, recheado de enigmáticas surpresas, “side-quests”, puzzles que irão requerer um oportuno uso das capacidades sobrenaturais de Corvo, qual título de plataformas, a violência quase que se torna como opcional num título repleto de hipóteses de desenvolvimento para o jogador explorar. O desenrolar da história depende em muito daquilo que o jogador faz na pele de Corvo, assim como o seu final, que depende em tudo da abordagem mais (ou menos) agressiva que o jogador tenha ao longo do desenrolar de um enredo extremamente envolvente, muito detalhado e que requererá toda a atenção e dedicação por parte do jogador, podendo (e devendo) entrar na pele de Corvo e na sua luta para salvar a jovem Emily e o seu reino de tão devastadora praga.

Jogabilidade

À partida, Dishonored traz-nos uma jogabilidade muito idêntica ao que é verificado na grande maioria dos títulos FPS, em termos de movimentos e miras de disparo. Contudo, depressa as capacidades de Corvo evoluem nos mais diversos sentidos, garantido maiores interações dinâmicas com uma base predefinida habitual deste género de jogos. Dishonored é um jogo que em muito se baseia nas capacidades de combate, e nesse âmbito podemos ser brindados com um título bem agressivo, dotado de mortes bem sangrentas, quer de vilões, quer de civis; mas também se baseia nas capacidades engenhosas e de “stealth” de Corvo, que se pode facilmente esconder nas sombras, atacar sem ser visto ou detetado, e colocar os seus adversários inconscientes, em vez de os dizimar por completo. Para tal, são vários os comandos que o jogador pode dar a Corvo, quer seja para se agachar atrás de objetos, esgueirar-se e ver sem ser visto, atacar por trás sem ser ouvido ou detetado, ou ainda manipular vários gadgets que imobilizarão e eliminarão os seus opositores sem a necessidade de confronto direto.

Já as suas habilidades sobrenaturais, serão escolhidas no lugar de armamento, numa dinâmica de seleção muito intuitiva, rápida e direta, através de um menu circular que nos mostra todas as armas e poderes disponíveis, bastando para isso deslocar o manípulo analógico na direção da arma desejada, sem ser necessário qualquer outro cursor ou botão de seleção, o que nos permite uma troca intuitiva em batalha, mas mesmo sem termos “pressa” em trocar de armamento, este menu mostra-se extremamente intuitivo e direto.

Um dos grandes pontos de interesse deste título é também, e no que diz respeito à jogabilidade, a introdução dos poderes sobrenaturais. Estes, embora possam ter uma funcionalidade bélica, servem também, em muitos dos casos, para permitir o acesso do jogador a zonas do mapa que não teria acesso de outra forma, nos interessantes momentos em que Dishonored deixa de parecer um FPS para se tornar num autêntico jogo de plataformas. Habilidades que nos permitem teletransportar para a frente (ou para cima), “saltando” sobre grandes vazios, ou subindo a zonas inacessíveis, visão raio-X através de paredes para saber quem se encontra do outro lado e quais as suas intenções e campo de visão, personificação de ratos e andar juntamente com os bandos de devastadores roedores, ou possuir um coração artificial que nos mostra onde se encontram outros artefactos sobrenaturais são alguns dos exemplos de capacidades com que Corvo será brindado ao longo do desenrolar de Dishonored, sendo para isso necessário, claro está, que o nosso protagonista encontre as denominadas Runes, que permitem a evolução destas habilidades, e detetadas, claro está, com o coração artificial que nos é oferecido pelo Outsider. Existem ainda Bone Charms, que são pequenas peças, bem menos poderosas que as Runes, mas que garantem pequenos benefícios a Corvo, como é o caso de se recuperar mais energia com poções, ou em combate, ou podendo revitalizar a nossa saúde quando bebemos água potável. A todas estas capacidades, ainda podemos acrescentar úteis desenvolvimentos físicos, como é o caso de, graças ao pagamento de algumas Runes, podermos, por exemplo, saltar o triplo da altura, acedendo assim a locais outrora inimagináveis.

 

Mas não é tudo no que diz respeito a equipamentos. Em Dishonored, Corvo poderá (e deverá) também evoluir os seus equipamentos bélicos. Dispondo de uma espada, uma pistola e/ou uma besta como armamento principal, o nosso protagonista poderá também, a cada missão, ir desenvolvendo e melhorando todo o seu equipamento junto de uma oficina pertencente aos Loyalists, podendo assim, e mediante um preço, melhorar a precisão, o impacto, a distância ou a capacidade das suas armas, assim como de equipamentos como granadas, minas de proximidade ou alternadores de circuitos, muito úteis para virar as armas dos nossos inimigos contra eles próprios.


Mas para tal poder ser adquirido, necessitamos de dinheiro, e a moeda de troca de Dishonored, denominada simplesmente de Coins, é garantida por conseguirmos terminar com sucesso algumas side-quests (outras poderão até presentear-nos com Runes), ou simplesmente por as colhermos pelo caminho, quer encontremos moedas propriamente ditas, quer encontremos objetos valiosos que automaticamente se convertem em dinheiro no nosso inventário. E existem muitos, espalhados ao longo dos cenários de Dunwall.

Já no que diz respeito à dinâmica de jogo, Dishonored desenvolve-se um pouco ao estilo RPG, com Corvo a ser capaz de se juntar (ou não) a quests fora da narrativa principal. Contudo, nenhuma destas quests surge aleatoriamente, e cada uma permitirá ao jogador compreender um pouco melhor o enredo por detrás das missões principais. Para tal, Corvo encontrará ao longo do seu caminho várias personagens com as quais pode interagir, e cujas ações vão evidenciando diferentes resultados ao longo de todo o jogo, o que é ditado, em grande parte, pela abordagem que fazemos às respetivas missões. Em todos os locais, e tal como vão enunciado os importantes tutoriais ao longo de uma primeira fase da história, existem vários caminhos que podem ser tomados para chegar ao nosso objetivo. Nenhum caminho é "única e exclusivamente" necessário, e nenhuma batalha é verdadeiramente obrigatória. Corvo pode abrir caminho frente aos seus opositores em ferozes e sangrentas batalhas, mas também pode procurar vias alternativas, o que será absolutamente obrigatório se pensarmos em ultrapassar as missões com uma abordagem bem mais "stealth". Dunwall mostra-se com mapas repletos de obstáculos passíveis de serem trepados, caminhos, ruas, becos a serem percorridos, com maior ou menor infestação de ratazanas sempre prontas a "devorar" os ingénuos humanos que se atravessem no seu caminho - inimigos inclusive - e ainda com várias condutas ou passagens secretas onde só as ratazanas cabem, permitindo assim uma vasta gama de abordagens a cada missão, e consoante cada objetivo, o que permite que o jogo se "adapte" à forma de jogar de cada um, tendo várias hipóteses para os mais variados tipos de abordagens, até mesmo em batalha, não sendo estas obrigatórias, a não ser, claro está, que sejamos detetados pelas tropas inimigas.

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Gráficos

Dishonored toma lugar numa Dunwall claramente inspirada no cenário londrino do séc. XVIII, XIX, mas que mistura um ambiente algo épico com tecnologias (e principalmente iluminação) bem contemporâneas. São vários os tubos de néon, ou os painéis vinílicos de exterior, num ambiente arquitetónico que se mostra bem próximo da revolução industrial britânica, com elevadas chaminés sempre a mostrar o seu denso fumo no ambiente enegrecido de Dunwall. Com mapas envolventes, e com imensas localizações e edifícios para explorar, Dishonored mostra-se um título graficamente rico, com bons efeitos e uma água bem conseguida, apreciável nos momentos em que navegamos entre o quartel general dos Loyalists e os escombros da cidade. O sangue, esse, surge a rodos, e o mapa torna-se num verdadeiro festim de vermelho escuro caso o jogador decida começar a "bombardear" as ratazanas que uma vez por outra invadem o cenário. As personagens mostram-se com interessante detalhe, tal como os edifícios, ficando apenas alguns modelos um pouco aquém do esperado, com texturas pontualmente descuidadas, ou uma fraca sobreposição de elementos esporádica, principalmente quando vemos personagens sentadas. Nota-se que em alguns componentes de formato supostamente circular existiu alguma falta de contornos, dotando tais objetos de uma formalidade demasiadamente poligonal. Contudo, Dishonored convence pelo seu grafismo, e estas pequenas lacunas mostram-se pontuais e em modelos maioritariamente de fundo no cenário. Existem aqui algumas (vastas) parecenças com a série Half Life, quer em termos de cenários, quer em termos de situações - também em Dishonored temos de eliminar uns aranhiços extremamente altos que vagueiam pelas cidades a disparar à distância contra nós, e tal como em Half Life, também temos de percorrer vários (e idênticos) sistemas de condutas ao longo dos mais variados cenários. Mas tais parecenças não serão de estranhar, quando Dishonored conta com a presença de um dos criadores dos cenários urbanos de Half Life 2. De facto, alguns dos equipamentos utilizados por Corvo ou até mesmo as barreiras e bunkers defensivos dos nossos opositores em muito remetem para modelos já presenciados no mítico jogo da Valve. Será inclusive interessante de notar que o nosso Outsider em muito se aparenta ao "G Man" de Half Life, desempenhando, cada um à sua maneira, claro está, um papel similar no desenrolar da história, e falando diretamente a Corvo em momentos chave do enredo.


Dishonored promete assim uma interessante experiência gráfica, com cenários bem conseguidos, e uma subtil separação entre ação e momentos cinematográficos, principalmente nos diálogos mais relevantes, sempre com uma ação fluida e sequencial, na qual o jogador terá variadas oportunidades para explorar todo o potencial cénico desta interessante aventura.
 
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Som

Dishonored conta com uma boa sonoridade, que sem ser brilhante, corresponde de boa forma à envolvência da história. Musicalmente este é um título que denota um bom enquadramento entre o registo sonoro e a situação que estamos a "sentir" no enredo, e os efeitos das personagens, quer a falar, quer a movimentar-se, estão bem enquadrados, faltando apenas algum realismo em certas superfícies (principalmente metálicas), onde o ruido feito por Corvo e pelas demais personagens fica aquém do esperado. Os efeitos de explosões, magias, quedas e disparos mostram-se a um bom nível, e os diálogos das personagens garantem um toque extra de envolvência a todo a história, com uma muito bem conseguida profundidade de campo sonora a mostrar-se evidente quando caminhamos pelas ruas de Dunwall. Curiosamente, Corvo não fala uma única palavra ao longo de todo o jogo, o que representa uma escolha dos criadores de Dishonored, para "permitir que o jogador entre na personagem". Curiosamente, este argumento mostra-se exatamente o mesmo que aquele apresentado há vários anos atrás aquando da criação de Gordon Freeman, o protagonista… de Half Life. E embora se possam fazer todas estas ligações (fáceis de identificar para os jogadores que conheçam ambos os títulos), tais analogias não constituem qualquer tipo de argumento depreciativo para com Dishonored, muito pelo contrário. Mostra-se extremamente interessante denotar que existem vários elos de ligação entre dois títulos extremamente fortes, um, que deu já provas do seu valor no passado, e outro que promete mostrar-se como um dos jogos de sucesso deste ano, dando uma mostra de inovação e qualidade a uma já algo monótona tipologia de FPS.


Conclusão

Em suma, Dishonored corresponde às expetativas criadas em torno da Bethesda, mostrando-se claramente um dos títulos a ter em conta para este final de 2012. Com um enredo interessante, um registo gráfico muito apelativo e uma sonoridade que ajuda a colmatar toda a história, Dishonored parece ter em si a receita para o sucesso, unindo plataformas e RPG a um FPS de qualidade, e permitindo assim ao utilizador um desafio muito mais estimulante e estratégico, missão a missão. Poucos são os limites impostos pelo enredo, e como tal, Dishonored permite ao jogador uma forte exploração de toda a história, com momentos violentos, suaves, de "suspense" e por vezes de algum terror, bem misturados e interligados entre si. As várias missões não obrigatórias, a procura incessante por Runes e a busca por artefactos que possibilitem o melhoramento do nosso armamento revelam-se como ponto de interesse extra para este interessante título, que em última análise, se torna algo viciante, por podermos ir sempre continuando e progredindo ao longo do enredo, sem grandes pausas nem becos sem saída, a não ser nos esporádicos momentos de calma aquando do nosso regresso ao bar dos Loyalists, e sempre em direção à missão final: o resgate da jovem Emily e a salvação de Dunwall.

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Ler 5053 vezes Modificado em Jul. 30, 2014
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