O stalkerware – software que permite espiar a informação e vida privadas de uma pessoa utilizando um dispositivo inteligente – afetou mais de 32,000 utilizadores móveis monitorizados pela Kaspersky a nível global no ano passado. Portugal é o 14º país europeu em que este fenómeno foi mais vezes identificado. Em conjunto com outras tecnologias, o stalkerware é muitas vezes utilizado em relações abusivas. A investigação identifica uma ligação direta entre violência online e offline, o que faz com que seja ainda mais essencial combater de forma abrangente esta questão.

O relatório The State of Stalkerware in 2021 analisa a utilização do stalkerware em todo o mundo, com o objetivo de melhor compreender a ameaça que representa. Oferece algumas análises do fenómeno do stalkerware, e, de forma mais geral, do abuso perpetrado através da tecnologia, bem como algumas dicas para organizações sem fins lucrativos e potenciais vítimas.

Apesar de termos observado um decréscimo do número de utilizadores afetados em comparação com os dados recolhidos pela Kaspersky em 2018, e um decréscimo de 39% desde os números de 2020, é importante destacar que estas estatísticas são apenas a ponta do iceberg. De acordo com uma estimativa aproximada da Coalition Against Stalkerware, a utilização de stalkerware pode estar próxima de um milhão de casos, a nível global, todos os anos.

Evolução do número de utilizadores afetados ano-a-ano desde 2018

Comparando os resultados desta investigação com os resultados de um inquérito digital conduzido pela Kaspersky no final de 2021, é fácil perceber a ligação entre violência online a violência offline quer em Portugal, como no mundo.

O fenómeno do stalkerware em Portugal

  • 15% das pessoas suspeita ter sido vigiada por um companheiro íntimo através uma aplicação móvel
  • 19% das pessoas inquiridas confirma já ter experienciado violência ou abusos do seu companheiro
  • 17% das pessoas inquiridas confirma ter sido vítima de incidentes de perseguição, por parte de um companheiro, com recurso à tecnologia
  • 18% das pessoas em Portugal não viu qualquer problema em monitorizar os companheiros em determinadas circunstâncias

Duas organizações sem fins-lucrativos que também participaram no relatório, partilhando a sua experiência de trabalho com as vítimas – a NNEDV nos Estados Unidos (Rede Nacional para o Fim da Violência Doméstica, ou National Network to End Domestic Violence) e a WWP EN (a Rede Europeia para Trabalho com Perpetradores de Violência Doméstica, ou European Network for the Work with Perpetrators of Domestic Violence) – confirmam que o abuso potenciado pela tecnologia é um problema em crescendo.

As TIC são ferramentas poderosas para agressores que exercem um controlo coercivo, especialmente em relações onde a violência está já presente offline,” escrevem Berta Vall Castelló e Anna McKenzie, da WWP EN. A violência doméstica cresceu significativamente durante a pandemia, especialmente durante os períodos de confinamento. Além disso, “há uma taxa crescente de dispositivos inteligentes – que incluem assistentes domésticos, aparelhos conectados, e sistemas de segurança ligados à rede WiFi e a smartphones – utilizados na violência entre parceiros íntimos. Embora o stalkerware seja uma preocupação comum, há várias outras ferramentas disponíveis para o abuso via tecnologia,” afirma Toby Shulruff, do projeto Safety Net da NNEDV.

O stalkerware continua a afetar vítimas de todo o mundo. A Kaspersky identificou utilizadores afetados em mais de 185 países e territórios, incluindo Rússia, Brasil, Estados Unidos da América e Índia, de novo os 4 países com maior número de utilizadores únicos identificados.

A Alemanha é o único país europeu que consta do top 10 de países mais afetados. Portugal ocupa a 14ª posição do top europeu, com 69 utilizadores únicos identificados pela Kaspersky em 2021. Enquadrado na lista mundial, o país desce para a 58ª posição. Entre as tecnologias mais utilizadas a nível nacional, constam os dispositivos de monitorização (36%), as aplicações móveis (14%), a câmara web (14%), dispositivos domésticos inteligentes (8%) e dispositivos para monitorização de saúde (7%).

 

 

País

Utilizadores afetados

1

Rússia

7541

2

Brasil

4807

3

Estados Unidos da América

2319

4

Índia

2105

5

Alemanha

1012

6

Irão

891

7

Argélia

665

8

Turquia

660

9

México

657

10

Egito

640


Os 10 países do mundo mais afetados em 2021 por stalkerware

O último relatório do ‘State of Stalkerware’ fornece ainda uma visão geral dos países mais afetados a nível regional:

  • Na Europa, o top 3 de países mais afetados é ocupado por Alemanha, Itália e Reino Unido, por esta ordem
  • No Oriente Médio e continente africano, Turquia, Egito e Arábia Saudita
  • Na região Ásia-Pacífico, Índia, Indonésia e Vietname;
  • Na América Latina, Brasil, México e Colômbia
  • Na América do Norte, o destaque vai para os Estados Unidos da América
  • Na região que inclui Rússia, Ásia Central e Europa de Leste, excluindo países da UE, o top 3 é ocupado pela Rússia, Ucrânia e Cazaquistão

Como a Kaspersky colabora com stakeholders externos para combater o stalkerware

A Kaspersky é uma das organizações cofundadoras e impulsionadoras do Coalition Against Stalkerware, um grupo internacional dedicado ao combate do stalkerware e da violência doméstica. A Interpol é apoiante do Coalition e, em 2021, em conjunto com a Kaspersky, deu formação a mais de 200 agentes de autoridade sobre o tema stalkerware.

Adicionalmente, a Kaspersky é um dos parceiros do projeto DeStalk. Financiado pela Comissão Europeia, este projeto de investigação visa desenvolver uma estratégia para formar e apoiar profissionais em serviços de apoio à vítima, programas para agressores, agentes em instituições e do governo local, entre outros.

A Kaspersky desenvolveu ainda o TinyCheck, uma ferramenta gratuita, em open-source, cujo objetivo é facilitar a deteção do stalkerware de forma simples, rápida e não-invasiva, utilizando o dispositivo da vítima. Pode ser executado em qualquer sistema operativo sem que o agressor saiba. Em 2021, múltiplas organizações sem fins lucrativos dedicadas à violência doméstica testaram o TinyCheck, dando feedback no sentido do seu melhoramento. Forças policiais e corpos jurídicos de vários países têm também mostrado interesse na ferramenta enquanto forma de melhor apoiar as vítimas.

Leia o relatório completo sobre as ameaças de stalkerware em 2021 em Securelist.

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