Não seria um artigo de tecnologia válido se não começasse com um título clickbait. Ora, este não é um artigo de despedida para o .NET, muito pelo contrário: ao longo do texto irei esclarecer alguns equívocos sobre esta tecnologia e, ao fazê-lo, talvez melhorar a vida de alguns developers. Estou ciente de que, sendo um programador .NET, posso estar um pouco enviesado, mas ao trabalhar com software há mais de 18 anos, a verdade é que já programei em praticamente todas as linguagens, vi a sua evolução e todas as “modas do mês”. Por este motivo, acredito que a minha experiência no ramo pode ajudar a clarificar e esclarecer potenciais dúvidas de programadores ou de qualquer pessoa que ambicione programar.

O .NET/C# quase nunca é a primeira tecnologia que um novo programador (ou até um experiente) escolhe para começar um projeto. E porquê? Acredito que seja uma mistura de equívocos e algumas más decisões da Microsoft em termos de promoção e adoção. Entre os mitos mais comuns, como “não ser open source”, “ser mais dispendioso” ou “não ter um bom desempenho”, importa compreender: haverá mesmo algum obstáculo real? Para perceber, acho que devemos responder a algumas questões.

Será pela sintaxe? Na minha opinião, não me parece que seja esse o motivo. O C# é semelhante — e até mais limpo — que Java, que está a ganhar força novamente com a ajuda do Spring Boot. Na verdade, arrisco-me mesmo a dizer que o C# tem uma das sintaxes mais legíveis e simples que existem. Então, será pelo desempenho? No que toca ao desempenho, o .NET é ainda mais rápido que o Java, consome menos memória e consegue até rivalizar com Go ou Rust dependendo da tarefa. E no que toca ao ecossistema? O .NET é também um dos ecossistemas mais completos no mundo do desenvolvimento, sendo possível fazer (quase) tudo com ele. Desde aplicações de consola a web services, apps desktop, apps nativas e multiplataforma, aplicações server-side e SPA, existem pacotes e bibliotecas para praticamente tudo. Para quem usa a Azure como fornecedor de cloud, é mesmo possível ter uma experiência de “primeira classe” com SDKs suportados pela Microsoft.

Tendo isto em conta, qual é, então, o verdadeiro obstáculo do .NET? Suspeito que a origem esteja sobretudo no ensino e no facto de que, embora o .NET seja ótimo hoje em dia, nem sempre foi assim. O ensino tem um papel importante porque normalmente expõe os jovens programadores a JS, Java ou Python e, quando estes entram no mercado de trabalho, tendem a confiar mais nas ferramentas que já conhecem. Se, por um lado, há muitos que entram numa empresa que trabalha com um produto mais “antigo”, por outro há quem comece a trabalhar para uma startup, onde o time-to-market é, muitas vezes, mais importante do que a estabilidade e, por isso, acabam por usar aquilo que já conhecem melhor. 

Embora esta seja a realidade atual, há vinte anos não era assim. A Microsoft tinha ligações fortes com a academia devido a contratos de software, e influenciava professores a ensinarem .NET em algumas cadeiras. Isto liga-se a alguns dos equívocos que ainda hoje afetam o ecossistema. O .NET não era open-source, era proprietário, era necessário pagar licenças e era usado sobretudo em indústrias como a da manufatura e da banca. Estes não são setores muito atrativos para novos programadores, especialmente os que cresceram no auge da internet e das startups. Como a linguagem era fechada, ficou para trás em várias frentes, mas todas as linguagens têm altos e baixos e fases de maior adoção. 

Talvez esteja na altura de voltar a trazer o .NET para o ensino como uma linguagem estável, open-source, fácil de aprender e como alternativa ao Java (onde e quando fizer sentido, claro). E nós, como developers, devíamos dar-lhe uma oportunidade — sobretudo quem precisa de construir algo com melhor performance do que Java, Node ou Python, mas valoriza a mesma facilidade de uso que uma linguagem de alto nível oferece.

 Autor: Pedro Quelhas, Lead Software Architect e People Lead da Zühlke

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Ler 318 vezes Modificado em Ago. 01, 2025
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