Nos últimos anos tem vindo a aumentar o número de crianças que todos os dias se atrevem a explorar os espaços infinitos da Internet - um mundo criado por adultos para adultos. E cada vez mais surgem, se não intensas disputas, pelo menos dúvidas… devemos ou não permitir às crianças o uso da rede das redes?

A maioria dos investigadores, especialistas e simples utilizadores está convicta de que a resposta a esta pergunta é “sim”. Dizem que Internet permite às crianças estudar, desenvolver-se, aprender a usar a comunicação virtual, que a par da comunicação real, se transformou em parte indispensável da nossa vida. E é sobre este fundamento que se cria a Internet infantil “segura”, como espaços de função similar aos parques infantis no mundo real. Aqui as crianças podem relacionar-se com amigos da sua idade, jogar diversos jogos e até há locais parecidos a livros infantis. Contos, poesias, literatura para os mais pequenos e inclusive livros para pintar - tudo isto se pode encontrar nas estantes virtuais da Internet infantil. Para os mais pequenos utilizadores de Internet são criados sistemas de busca exclusivos que indicam apenas as páginas para crianças.


A Internet infantil não tem apenas uma extensa oferta. Tem também uma enorme procura, tanto por parte das crianças, como dos pais. Para comprová-lo, basta escrever no Google as palavras “lugares para” ou “redes sociais para” e receber uma lista das buscas mais frequentes que começam com estas palavras.

Para qualquer das buscas, o Google propõe de imediato “lugares para crianças”.

Tomando em conta o intenso crescimento da Internet infantil, e as buscas dos novos utilizadores da Internet em geral, é muito difícil escutar as vozes daqueles que estão “contra”. No entanto, esta gente existe e tem muitos argumentos a favor de proibir que as crianças usem a Internet. Certamente, a maioria destes argumentos está relacionada com a instabilidade da mente infantil, que pode traumatizar-se com diferentes conteúdos “adultos” localizados na rede. Este problema, não obstante, tem uma solução, a que se decidiu chamar “protecção de menores” ou “controlo parental”. Por estas palavras deve entender-se não a força educativa dos pais, mas um componente da defesa da informação chamado a bloquear o acesso às páginas não recomendadas para crianças.

Mas, há outro aspecto importante da segurança das crianças na Internet: é a Internet infantil na verdade tão segura como se apregoa? Têm razão os pais que confiam às cegas nas afirmações dos “fornecedores de serviços” de que nos sites infantis não há nenhuma ameaça para o computador e as crianças? Na nossa opinião, a resposta a esta pergunta é negativa. Neste artigo vou explicar-lhes que ameaças esperam as crianças e os seus pais na “inofensiva” Internet para crianças.

Elementos anti-sociais nos sites para crianças

É uma situação não invulgar: você autoriza o seu filho a passear no parque infantil à porta de casa, que conhece desde sempre, e depois de uma ou duas horas, este volta para casa a chorar e sem o seu brinquedo preferido. No parque infantil apareceram elementos anti-sociais.

Estes podem ser da mesma idade da criança, um pouco maiores ou adolescentes que decidiram divertir-se com crueldade. As redes sociais infantis também não estão a salvo destas “visitas”. Escrever comentários maliciosos no mural, enviar uma mensagem pessoal com conteúdos desagradáveis e descer o nível das mensagens dos fóruns… tudo isto são pequenas provocações que, no entanto, podem pôr de rastos o estado de espírito do menor. É evidente que as travessuras infantis e a arruaça limitada não são o pior que pode ocorrer à criança, e que estas coisas o preparam para os possíveis palcos da vida adulta. Mas qualquer pessoa entende a dor com que as crianças pequenas reagem a estas situações, se inclusive nem todos os adultos conseguem controlar as suas emoções e ressentimento quando recebem alguma mensagem pessoal desagradável.

Mas pior é quando um adulto lesa a criança. E não nos referimos a pequenas travessuras, mas a verdadeiros delitos penais cometidos contra menores. Uma rede social infantil, um fórum ou um chat para crianças são lugares ideais para os pedófilos poderem passar despercebidos por muito tempo, fazendo-se passar por um membro da comunidade igual a todos os demais. Infelizmente, ninguém dispõe de uma estatística exacta sobre quantos utilizadores adultos fingem ser crianças nas redes sociais infantis. Só se sabe com toda certeza que, regularmente, são eliminados utilizadores suspeitos de pedofilia em diferentes meios. Estas pessoas representam uma ameaça real para as crianças.

Muitas vezes a criança confia mais nos amigos virtuais que nos reais. Isto pode levar a que a criança saia para se encontrar com o seu “melhor amigo” da rede infantil, sem contar não só ao pai e à mãe, como também aos seus companheiros de escola. E isso é exactamente o que o pedófilo pretende. A sua tarefa é fazer com que o menino confie nele e seduzi-lo para um encontro pessoal. Para o pedófilo é muito importante que o menor não conte a ninguém sobre o encontro. E o desfecho destas situações é tão triste quanto previsível. Sair da situação com um “leve susto” é o menos mau que podemos esperar.

Atenção aos anúncios!

Às vezes as crianças que iniciam contacto frequente com a Internet, mudam o seu comportamento e começam a pedir dinheiro aos pais para comprar uma série de coisas às quais antes não prestava qualquer atenção.

Muitos sites infantis usam, sem remorsos de consciência, a possibilidade de lucrar fazendo-se membros de redes de banners. Ao navegar pela Internet infantil dos países ocidentais, os utilizadores deparam-se com a rede de banners “Ads by Google” em cerca de um quarto dos sites. A propaganda contextual agarra-se a palavras muito diversas, sendo as mais frequentes as palavras típicas da categoria “educação”, onde há fortes possibilidades de o seu filho se convencer que pode receber uma bolsa de estudos inexistentes ou aprender a arte da hipnose, comprando um disco que custa 50 euros.

Também há casos curiosos que ocorrem quando a propaganda contextual se agarra a palavras que costumam encontrar-se nos nomes de jogos. Aqui, a criança pode converter-se na vítima casual de uma pirâmide financeira. Deparámo-nos com estas propostas na janela de propaganda contextual de sites de jogos infantis. O sincero desejo da criança de ajudar os seus pais a ganhar dinheiro neste caso pode terminar muito mal, como com qualquer pirâmide financeira.

Mas, por vezes, podem também encontrar-se propostas não tão inocentes. Com a busca “sites para crianças”, o Google apresenta em terceiro lugar um site de relações e educação para crianças. Ali há blogues, chats, fóruns e muitas possibilidades de leitura interessantes. No mesmo site, na página principal, à direita, a criança vê alguns links sob o nome geral de “coisas interessantes na rede”:

As “coisas interessantes” não são nada infantis: na página principal pode visualizar-se um link a um falso antivírus. Os outros três links (um dos quais tem uma imagem dos ídolos da juventude de hoje) levam a um website a partir do qual, supostamente, se podem descarregar filmes enviando um SMS para um número curto.

É irónico que neste sítio se ofereça uma forma adicional de pagamento:

Para fazer o pagamento é necessário:
1. Ligar para o número do serviço
2. Escutar a informação
3. Introduzir o código 19371
4. Não desligar o telefone durante 5 minutos
5. Depois de pago o serviço usar o código gq5tsd4 para aceder à parte secreta do site


Segundo as instruções da captura de ecrã acima, é necessário ligar para um número, introduzir o código do serviço e ficar em linha 5 minutos. Depois de ter presenteado o delinquente com uma boa soma por uma ligação de cinco minutos para um número de valor acrescentado, o serviço é considerado pago. Então pode introduzir-se o código para entrar na “parte secreta” do site. Mas ninguém diz ou envia o código por telefone, porque os delinquentes o puseram de boa fé no quinto ponto das “instruções de pagamento”. Mas, inclusive, depois de introduzido, o site não permite entrar na “parte secreta”. E a um site como este, com um sistema de fraude tão simples, chegam as crianças que querem ver as “coisas interessantes” da Internet.

Além das redes de banners, nas comunidades infantis há mais uma forma de colocar propaganda ou outro tipo de lixo: são as banais mensagens do utilizador que acaba de registar-se no site e, se a comunidade o permite, dos convidados. É necessário analisar estas mensagens porque na maioria dos casos contêm um link externo. Os links externos levam com frequência a sites maliciosos ou de conteúdo pornográfico. Felizmente, a maioria dos sites ocidentais bloqueia a possibilidade de visitar links externos, ou pelo menos mostra uma advertência de que o link remete o utilizador para sites que se encontram fora da comunidade.

Sem dúvida, nos fóruns, redes sociais e blogues infantis há moderadores que devem fazer respeitar a ordem. Isto não é, todavia, certo e garantido, já que os moderadores podem não chegar sequer a rever todas as mensagens. Nos fóruns das redes populares entre as crianças, é muito frequente que se encontrem temas especiais onde os utilizadores podem queixar-se aos moderadores de que incluíram links para sites pornográficos ou maliciosos.

Com frequência, nas redes de banners e entre a propaganda dos fóruns, podem encontrar-se ofertas muito atractivas à primeira vista: agências de modelos para crianças ou, por exemplo, bolsas de estudo. Esta é outra das formas de fraude cujas potenciais vítimas são as crianças e os seus pais. São oferecidas às crianças perspectivas incríveis, a possibilidade de estudar num instituto prestigiado ou de se tornarem estrelas da moda. Na verdade estas organizações são simples fraudes que sacam dinheiro aos pais sob diferentes pretextos. Em resultado, a bolsa obtida sai mais cara do que pagar os estudos e a difícil aprendizagem na escola de modelos termina com a inclusão da foto da criança na base de dados de modelos, com possibilidades quase nulas de ser visitado por algum produtor em busca de jovens talentos.

Dinheiro para gelados

Quanto dinheiro dá ao seu filho para as pequenas despesas? É pouco provável que lhe dê uma grande quantia. O mais provável é que não o faça porque teme, inclusive, que se a criança não gastar todo o dinheiro por sua própria conta, alguém lho possa roubar. Então, porque razão tantos pais consideram que na Internet a criança não corre o risco de gastar ou perder o seu dinheiro electrónico?

Segundo recentes investigações, cerca de 25% das crianças em Inglaterra usam os cartões de crédito dos seus pais para pagar serviços na Internet. Este número oscila em diferentes países, mas a quantidade de novos e inexperientes utilizadores com cartões de crédito atraiu e monopolizou a atenção dos vigaristas. Conhecem-se muitos casos do eBay em que vendedores de má fé pediam a crianças o pagamento por objectos que não pensavam enviar.

Neste momento não existe um tipo de phishing especial para crianças, mas os especialistas em segurança infantil na Internet prevêem que em breve aparecerá este tipo de fraude. Por enquanto as crianças só podem introduzir os dados do cartão da sua mãe em sites de phishing dirigidos a maiores de idade, mas isto não basta para nos tranquilizar.

Pregos ferrugentos na areia do parque infantil

Os pregos ferrugentos ocultos na areia do parque infantil ameaçam contagiar de tétano as crianças que ali brincam. Quando se fala de Internet em geral e dos sites infantis em particular, as ameaças são outras.

Todas as semanas, detectamos aproximadamente duas dezenas de sites infantis infectados por códigos maliciosos. Entre eles há sites que vendem coisas para crianças, mas, muitas vezes, trata-se de sites de educação e jogos. A maioria dos sites infectados tem mais de 100 visitantes por dia.

Se no computador não foi instalado um antivírus, este está desactivado ou as bases antivírus não estão actualizadas, e o seu filho por vezes navega na Internet, há grandes riscos para a "saúde" do seu computador.

Nos casos de bullies, pedófilos e redes de banners, pode confiar-se na atenção e prudência da criança que, com uma boa educação e compreensão do perigo, pode não morder o anzol do pedófilo e não seguir os links postos nos banners. Ao contrário, o problema do código malicioso é mais de hardware. Mesmo que o seu filho seja muito razoável e prudente, a probabilidade de que um computador desprotegido se infecte continua a ser muito alta. Os intrusos são inadvertidamente introduzidos no computador, explorando as vulnerabilidades do software.

É importante ter presente que quase nenhum site conta com protecção absoluta contra invasões de hackers. Desta maneira, o antivírus deve estar activado mesmo que o seu filho apenas visite recursos infantis inofensivos.

E se for o seu filho o bully?

As crianças aprendem muito rápido. Nós, os adultos, queremos que aprendam coisas boas, mas eles aprendem o que acham necessário.

A inexplicável e inadequada auréola de romantismo e “respeitabilidade” com que está rodeada a “profissão" de hacker é muito atractiva e as crianças inteligentes de 10-12 anos decidem que quando “forem grandes” querem ser hackers. É evidente que isso foi o que decidiu o japonês, aluno do secundário, que invadiu um jogo online para roubar 360 mil dólares virtuais. Ou o menino de 9 anos que, na Virgínia, invadiu o sistema de educação à distância Blackboard Learning System.

Como já destacámos, a idealização dos hackers é completamente inconveniente, incorrecta, desnecessária e prejudicial. As crianças devem entender que os hackers não são mais que delinquentes. São ladrões e vigaristas, iguais a todos os demais, só que roubam e enganam as suas vítimas com a ajuda da Internet.

Infelizmente, as crianças sentem que há alguma impunidade na rede das redes. E isso explica as frequentes tentativas de jovens utilizadores de vender no eBay objectos inexistentes e dessa forma ganhar dinheiro ilegal. Há notícias de casos curiosos: uma menina inglesa de 10 anos tentou vender a sua própria avó no eBay. A menina descrevia a sua avó como “pesada", mas bastante “simpática”. Recebeu bastantes respostas à sua proposta. Não obstante, a venda não aconteceu porque a venda de pessoas, avós incluídas, está proibida na maioria dos países civilizados.

Na realidade, a resolução do problema da má conduta das crianças na Internet, feitas as contas, cabe aos pais. Nenhum antivírus pode convencer uma criança de que é mau ser hacker ou vender a sua avó em leilão, se lhe falta a educação para o compreender por si próprio.

Conclusão

Devemos permitir às crianças que usem Internet? A resposta a esta pergunta deve ser sim, porque a Internet é um meio de comunicação importante e as crianças devem saber comunicar no mundo virtual. Além disso, as possibilidades que a Internet oferece para aprender e conhecer o mundo são praticamente imensuráveis. Proibir o menor de se ligar à Internet significa deixá-lo sem a fonte mais ampla de informação no mundo.

Seria mais correcto fazer a pergunta: devemos permitir que as crianças naveguem na Internet sem que ninguém as vigie?

Nos nossos tempos, a idade aproximada em que as crianças exploram pela primeira vez a imensidade da Internet é de 5-6 anos. Nas grandes metrópoles há bastantes crianças que obtêm acesso à Internet aos 3-4 anos e são poucos os que o fazem pela primeira vez ao ingressar à escola. No entanto, a Internet continua a ser um território dos adultos, onde existem coisas incompreensíveis para as crianças e, frequentemente, perigosas.

Neste mundo, os primeiros a ajudar e apoiar aos pequenos terão que ser os pais. Se nós não permitimos que os nossos filhos pequenos passeiem sozinhos na grande cidade, porque tememos que um carro os atropele ou que alguém os sequestre ou os magoe, porque não manifestamos o mesmo nível de preocupação com a Internet?

Actualmente, mais de 70% das crianças de 7 a 12 anos usam a Internet por sua própria conta e risco. Para as crianças de 4 a 7 anos a estatística é mais modesta, mas igualmente pouco consoladora.

As crianças apenas estão na Internet, em conjunto com os seus pais, quando estes lhes ensinam a navegar pelos sites e os ajudam a acostumar-se ao novo ambiente. Logo que a criança começa a usar o rato por sua própria conta, a mãe e o pai desaparecem, considerando que a sua missão está cumprida. Mas não é assim, porque é precisamente nesse momento que o trabalho dos pais deve começar.

As crianças são inocentes e confiantes, não são críticas ao julgar as situações e é muito fácil traumatizá-las. A navegação conjunta dos pais com os filhos pode resolver uma grande quantidade de problemas de carácter psicológico e de hardware. É compreensível que um jovem de 10-12 anos já queira uma certa privacidade na comunicação virtual com os seus amigos e não goste de ter os seus pais a espreitar por cima do ombro. Pode, por isso, permitir-se ao adolescente que navegue de forma semi-independente na Internet, quando o pai ou a mãe não estão a seu lado, desde que se acompanhe os seus passos e se utilize, como auxiliar dessa vigilância, um sistema de controlo parental.
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